Fortalecimento da coleta de dados da resposta à lepra em Nampula

Fortalecimento da coleta de dados da resposta à lepra em Nampula

A província de Nampula, marcada por desafios como os ciclones e dificuldades logísticas, continua a ser uma das regiões com maior incidência de novos casos de lepra em Moçambique. Infelizmente, muitos desses casos são diagnosticados tardiamente, incluindo crianças com deformidades graves, como a mutilação de dedos das mãos e dos pés, o que demonstra a necessidade urgente de intervenção precoce e integrada. 

Foi nesse contexto que a OMS, em parceria com o Ministério da Saúde de Moçambique e a Fundação Sasakawa, realizou um treinamento técnico inovador para profissionais de saúde de 13 distritos de Nampula (Nacala Porto, Ilha de Moçambique, Liupo, Monapo, Nacaroa, Nacala Velha, Muecate, Memba, Mongicual, Lalaua, Mecuburi, Mossuril e Larde). Mais do que uma capacitação, o encontro, que aconteceu no início de julho em Nampula, representou um passo decisivo rumo à melhoria do diagnóstico precoce, da vigilância de dados e do apoio psicossocial aos pacientes com lepra. 

Os casos de lepra em Nampula aumentaram de 1.106 em 2023 para 1.297 em 2024. Essa tendência ascendente, aliada a discrepâncias nos dados entre as plataformas DHIS2 (sistema para o registro da lepra no país) e o Excel (tabela de coleta local de dados), reforçou a importância da qualidade da informação e da vigilância. 

Um dos momentos mais transformadores da formação foi a demonstração da plataforma eletrónica para o registo de dados de lepra. A ferramenta, simples e acessível através de telemóveis, permite aos profissionais registar dados diretamente dos livros físicos. Quando conectados à internet, os dados são automaticamente transferidos para um servidor central e integrado, gerando gráficos, mapas e tabelas que facilitam a identificação de focos endémicos e a definição de planos de resposta mais eficazes. Antes da formação, a maioria dos profissionais enfrentava dificuldades no acesso e uso da plataforma, o que contribuía para a subnotificação dos casos. 

A introdução do módulo de apoio psicossocial aos pacientes com lepra na Unidade Sanitária – incluindo o fluxograma de atendimento – foi um dos destaques da formação dos supervisores distritais de lepra em Moçambique. Este módulo é fundamental para que os profissionais de saúde estejam preparados para lidar com o sofrimento emocional dos pacientes. Além disso, visa proporcionar apoio emocional aos pacientes e seus familiares, com foco na aceitação do diagnóstico e na adesão ao tratamento. Também promove a criação de espaços seguros, onde os pacientes possam partilhar experiências, reduzir o estigma e fortalecer redes de solidariedade. 

Mas o impacto da formação não se limita às unidades sanitárias. Os técnicos capacitados assumiram a responsabilidade de replicar o conhecimento ao nível local, envolvendo ativistas e voluntários comunitários, reativando os Grupos de Apoio e Adesão Comunitária (GACs) e intensificando buscas ativas nas comunidades. Essa mobilização comunitária é fundamental para quebrar o ciclo da transmissão da lepra, garantindo o diagnóstico e tratamento precoce e prevenindo complicações irreversíveis. 

Apesar dos desafios, o treinamento representou um marco na resposta à lepra em Moçambique. Com novos conhecimentos, ferramentas e uma visão integrada, os profissionais de saúde de Nampula estão mais preparados para transformar a realidade das suas comunidades.  

 

Veja abaixo o depoimento de alguns dos participantes da capacitação. 

 

Para Maria dos Anjos, do distrito de Nacala, em Nampula, a inserção de dados no sistema era um grande problema, pois a falta de treinamento dificultava o uso, o que acabava gerando dados incorretos na transmissão para o nível nacional. Com essa capacitação, ela compreendeu quais são as ferramentas que pode utilizar para facilitar a coleta e espera que isso já não seja mais um desafio para o reporte correto do número de casos. 

 

A Dra. Helena Daniel, psicóloga do Hospital Central de Nampula, ressalta a necessidade de envolver o paciente, a família e a comunidade para acolhimento, para que não apenas a lepra seja tratada, mas que a saúde mental do paciente possa ser acompanhada para um tratamento seguro e eficiente. 

 

Josual Benjamin, do distrito de Muecate, em Nampula, ressaltou a importância de integração entre cuidados, rastreio e diagnóstico para os pacientes com lepra. Agora, após a capacitação, a detecção de novos casos será mais facilitada. Quem ganha com isso é a comunidade, pois os profissionais de saúde estão mais preparados para realizar um diagnóstico ativo, para que pacientes com lepra iniciem o tratamento o mais rápido possível. 

 

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