Moçambique desenvolve laboratório regional de referência para tuberculose

Moçambique iniciou uma série de medidas para ampliar o Laboratório Nacional de Referência para a Tuberculose (TB), através da formação de especialistas e do investimento na mais recente tecnologia, entre outras ações. O objetivo é torná-lo uma unidade de referência regional e reforçar a luta contra a TB, uma das principais doenças infeciosas e que mais matam no mundo.

Os Laboratórios Supranacionais de Referência para TB são laboratórios especializados, formam parte da rede da OMS e prestam apoio técnico e orientação aos programas nacionais de TB, particularmente para a vigilância e diagnóstico da TB resistente a medicamentos.

Na região africana, o acesso limitado a diagnósticos rápidos é um dos maiores desafios na resposta à TB. Atualmente, apenas 54% dos pacientes com TB têm acesso a diagnósticos rápidos e mais de metade dos casos de TB multirresistente ficaram sem diagnóstico e tratamento em 2023.

Em maio de 2025, uma missão de avaliação técnica esteve no local para avaliar a prontidão do laboratório e a aptidão para assumir este papel regional crítico. A missão foi conduzida por uma equipa de especialistas da OMS, de Laboratórios Supranacionais de Referência para TB do Uganda e do Brasil, e de parceiros da comunidade de saúde da África Oriental, Central e Austral, que analisaram a infraestrutura, o desempenho e o alinhamento do laboratório com as normas da OMS para a designação de Laboratórios Supranacionais de Referência para TB.

Florence Erb / WHO Moçambique
Equipado com infraestrutura de biossegurança de última geração e com uma equipa de 18 profissionais altamente qualificados, o Laboratório Nacional de Referência para TB de Moçambique desempenha um papel central no diagnóstico e vigilância da TB no país. O laboratório recebe 7.000 amostras por ano de todo o país, cada uma registada e monitorada através de um sistema digital. A equipa seleciona amostras positivas para cultura de TB para posterior testagem molecular a fim de determinar a resistência a medicamentos e orientar o tratamento adequado.

“O laboratório de referência em Maputo demonstra muita competência técnica, resiliência e vontade de fazer a diferença. Para o Programa Nacional de Tuberculose do Brasil, esta visita foi importante não apenas para partilhar conhecimentos técnicos, mas também para abrir uma comunicação mais fluida entre os países”, afirma Nicole Menezes de Souza, técnica em bioquímica farmacêutica do programa nacional de TB do Brasil.
Florence Erb / WHO Moçambique
Nos bastidores, a organização meticulosa é fundamental para manter a integridade dos testes de TB. O frigorífico do laboratório armazena reagentes essenciais e amostras de pacientes, todos cuidadosamente rotulados e organizados. A equipa deve coordenar-se de perto para garantir o armazenamento adequado, o acesso oportuno e o transporte seguro dos materiais. O manuseio de amostras biológicas sensíveis exige vigilância, pois erros podem comprometer os resultados.

“O progresso alcançado no Laboratório Nacional de Referência para TB em Maputo é louvável,” afirma o Dr. Carl-Michael Nathanson do Programa Global da OMS para a Tuberculose e Saúde Pulmonar. “Demonstra que, com pessoal comprometido e qualificado, forte apoio governamental, uma visão estratégica clara e financiamento adequado, é possível estabelecer serviços laboratoriais essenciais com elevada qualidade, segurança e eficácia.”
Florence Erb / WHO Moçambique
Dentro da cabine de biossegurança, um técnico de laboratório mistura cuidadosamente o líquido de reação utilizado para o diagnóstico da TB. A cabine especializada garante que o ar seja filtrado e aspirado para proteger tanto a integridade da amostra como a saúde dos profissionais do laboratório. Esta etapa, como muitas outras no processo, exige elevados níveis de precisão, concentração e cumprimento rigoroso dos protocolos de biossegurança.
Florence Erb / WHO Moçambique
Ferramentas avançadas de diagnóstico molecular, como o GeneXpert e sistemas de cultura de TB, estão a transformar a deteção da TB, permitindo a identificação rápida e precisa de estirpes sensíveis e resistentes a medicamentos. No laboratório, o trabalho em equipa é essencial: cada membro da equipa contribui com a sua especialização, desde a triagem e preparação das amostras até à operação do sistema GeneXpert e à interpretação dos resultados. Este esforço coordenado é fundamental para diagnosticar a TB multirresistente e garantir tratamento eficaz e oportuno para as pessoas com TB em Moçambique.
Florence Erb / WHO Moçambique
Protocolos, formação contínua e mentoria são essenciais para cumprir os critérios exigentes de acreditação como Laboratório Supranacional de Referência para TB. Para assegurar qualidade e biossegurança consistentes, o laboratório está a implementar um sistema robusto de gestão da qualidade que inclui controlo interno de qualidade, participação em testes de proficiência e alinhamento com normas internacionais. Este investimento contínuo em competências e sistemas é crucial para prestar serviços diagnósticos de TB fiáveis e de alta qualidade em nível nacional e regional.

“Aproximar os países lusófonos das ações de saúde é essencial para fortalecer a cooperação e o desenvolvimento da saúde pública e, em especial, para a eliminação da TB”, afirma de Souza.
Florence Erb / WHO Moçambique
Como parte do percurso rumo à acreditação internacional, especialistas da OMS e parceiros realizaram uma avaliação abrangente do desempenho do laboratório, das práticas de garantia de qualidade, dos protocolos de biossegurança e dos sistemas de gestão em geral. Este processo colaborativo envolveu uma análise detalhada de lacunas, planejamento de ações e uma revisão minuciosa da documentação, tudo com o objetivo de alinhar o laboratório às normas da OMS para Laboratórios de Referência Supranacionais.

“Alcançar o estatuto de Laboratório Supranacional de Referência para TB da OMS melhoraria significativamente a mentoria e o reforço da capacidade regional, promovendo o acesso a diagnósticos de TB de alta qualidade nos países africanos lusófonos e permitindo uma deteção mais rápida da TB para melhorar o controlo transfronteiriço da doença”, afirma o Dr. Nathanson.