Melhorar a resposta ao surto de cólera nas regiões mais afectadas de Angola
Diante do actual surto de cólera em Angola, é natural que a população esteja alarmada. “O que podemos fazer para evitar adoecer?” perguntou Maesso Damião, uma residente da província do Zaire, aos especialistas em saúde pública da Organização Mundial de Saúde (OMS) que visitaram recentemente a província. A equipa respondeu com conselhos simples sobre higiene alimentar, tratamento da água e procura de tratamento médico precoce. “Esta informação pode salvar-nos a vida”, afirmou Damião.
Desde o início de 2025, quando o surto foi declarado, foram registados mais de 25.000 casos e quase 800 mortes em Angola. Na província do Zaire, foram notificados cerca de 174 casos, com uma taxa de letalidade muito elevada de 5,7%, até 13 de Junho de 2025. Considerando que 1% é o valor de referência para um tratamento precoce e adequado, a urgência de controlar o surto de cólera é evidente.
Durante a sua visita de uma semana ao Zaire, a equipa multidisciplinar da OMS visitou os municípios de Soyo, Nzeto e M'banza Kongo, onde a cólera afectou comunidades vulneráveis, incluindo pescadores e comerciantes informais. A avaliação efectuada pela equipa revelou os desafios enfrentados para a resposta: centros de tratamento sem camas adequadas, escassez de materiais, subnotificação de casos, falta de saneamento e dificuldades na preparação de soluções de cloro.
A equipa da OMS apoiou a melhoria da qualidade dos cuidados e da biossegurança (práticas de trabalho seguras no manuseamento de agentes infecciosos) em quatro centros de tratamento da cólera, a melhoria da segurança da água e a distribuição de bens essenciais e água potável. Também ministrou formação a 140 profissionais de saúde em vigilância epidemiológica, gestão clínica e prevenção e controlo de infeções.
“O apoio da OMS permitiu-nos assegurar condições cruciais para conter o surto, realçando a importância do envolvimento da comunidade na prevenção da doença. Isto vai permitir-nos adoptar medidas cruciais para o futuro, prevenir doenças e salvar vidas”, disse o director provincial de saúde do Zaire, Dr. João Bernardo.
A colaboração com os líderes comunitários é essencial para reforçar a resposta a nível local. Mais de 700 pessoas participaram em sessões de sensibilização em igrejas, praias e praças da cidade.
A Dra. Raquel Medialdea-Carrera, epidemiologista do Centro de Pandemias da OMS em Berlim e membro da equipa da OMS que trabalha actualmente no terreno em Angola, afirma: “A cólera não é apenas uma emergência médica, mas também uma emergência de saneamento, água tratada, informação, dignidade e justiça social. Temos de continuar a trabalhar em conjunto como um todo, para eliminar a cólera e proteger a população”.
Por sua vez, Dr. Indrajit Hazarika, Representante da OMS em Angola, reforçou a importância desta abordagem integrada: “Embora o surto de cólera seja motivo de grande preocupação, representa também uma oportunidade crítica para reforçarmos a cooperação e os sistemas de saúde e criarmos uma preparação mais sólida para emergências. O nosso objectivo comum é uma Angola mais saudável e mais resiliente e, para isso, esperamos poder contar com o apoio de todos.”