Mensagem do Director Regional da OMS para a África, Dr. Mohamed Janabi
Todos os anos, os medicamentos que outrora curavam as infecções estão a perder o seu poder. A resistência aos antimicrobianos (RAM) está a corroer silenciosamente décadas de progressos médicos, ameaçando a nossa capacidade de tratar até as doenças mais comuns. Das clínicas no meio rural aos hospitais de referência, os sinais de alerta são evidentes: infecções que já não respondem ao tratamento, internamentos hospitalares prolongados e custos crescentes que sobrecarregam tanto as famílias como os sistemas de saúde.
De 18 a 24 de Novembro, os países da Região Africana juntam-se à comunidade mundial para assinalar a Semana Mundial de Sensibilização para a RAM, sob o tema "Agir agora: proteger o nosso presente, assegurar o nosso futuro".Esta semana é um apelo à acção para preservar a eficácia dos medicamentos que salvam vidas e proteger a saúde, os meios de subsistência e a segurança alimentar das gerações vindouras.
Em 2021, as infecções resistentes aos antimicrobianos causaram cerca de 1,14 milhões de mortes em todo o mundo, mais do que o VIH e o paludismo, sendo a África Subsariana a região mais afectada. As razões vão desde o acesso limitado a meios de diagnóstico, as lacunas na prevenção de infecções e a utilização inadequada de medicamentos em seres humanos e animais, até à falta de água, saneamento e higiene.
Se não for controlada, a RAM pode levar milhões de pessoas a cair na pobreza, comprometer os sistemas alimentares e inverter os ganhos em matéria de saúde arduamente conquistados.
No entanto, esta é uma luta que podemos vencer - com liderança, colaboração e responsabilização.
A dinâmica está a aumentar nos nossos 47 Estados-Membros. Todos os países da Região Africana têm agora um plano de acção nacional contra a RAM e mais de metade participa no Sistema Mundial de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (GLASS) da OMS. Trata-se de um passo fundamental para a produção de dados fiáveis destinados a orientar a acção.
Trinta e dois países estão a implementar iniciativas de gestão para garantir que os medicamentos são prescritos e dispensados de forma adequada. Os laboratórios regionais estão a melhorar a detecção e a vigilância. Juntamente com os nossos parceiros da Aliança Quadripartida (Organização para a Alimentação e a Agricultura, Organização Mundial da Saúde Animal e Programa das Nações Unidas para o Ambiente) e com o Centro Africano de Prevenção e Controlo de Doenças e o Gabinete Inter-Africano de Recursos Animais da UA, estamos a reforçar a governação e a formar líderes para coordenar as respostas nos sectores humano, animal e ambiental.
Estas conquistas políticas já estão a salvar vidas. Meios de diagnóstico melhorados significam um tratamento mais rápido e mais preciso. Medidas mais rigorosas de prevenção de infecções estão a manter as mães e os recém-nascidos seguros durante o parto. A utilização prudente de antimicrobianos na pecuária está a proteger tanto os rendimentos dos agricultores como a saúde pública. Estes progressos provam que, quando os países agem em conjunto, a resistência pode ser contida.
Mas os progressos continuam a ser frágeis. A gestão exige um investimento e uma vigilância constantes. Para garantir o futuro, temos de agir agora.
Exorto todos os Estados-Membros a:
- investirem no financiamento interno dos planos de acção e dos sistemas laboratoriais de luta contra a resistência aos antimicrobianos, assegurando uma apropriação nacional sustentada;
- integrarem o controlo da RAM nos cuidados de saúde primários, na prevenção das infecções e nas estratégias de cobertura universal de saúde;
- capacitarem os profissionais de saúde, farmacêuticos e veterinários com formação e ferramentas para promover a utilização responsável de antimicrobianos;
- regulamentarem a produção de antimicrobianos e a eliminação de resíduos para evitar a contaminação ambiental;
- envolverem as comunidades, especialmente os jovens, para consciencializar, evitar a automedicação e concluir os tratamentos prescritos; e a
- promoverem a utilização responsável de antimicrobianos na agricultura, trabalhando com os agricultores e a indústria para reduzir a utilização indevida.
A acção colectiva deve ir além das unidades de saúde. Os agricultores, educadores, reguladores ambientais, decisores políticos, organizações da sociedade civil e consumidores têm todos um papel a desempenhar. Uma abordagem "Uma Só Saúde", que una a saúde humana, animal e ambiental, é essencial para impedir que a resistência se propague para além das fronteiras e entre os diferentes sectores.
Durante a Semana Mundial de Sensibilização para a RAM 2025, reafirmemos a nossa responsabilidade partilhada de preservar os medicamentos que salvam vidas. Se agirmos agora, juntos, podemos proteger o nosso presente, garantir o nosso futuro e construir um continente onde as infecções evitáveis já não roubam o potencial ou a promessa.
Para saber mais:
- Semana Mundial de Sensibilização para a RAM 2025
- OMS: Resistir à resistência aos antimicrobianos
- Antimicrobial resistance - a threat to the world’s sustainable development
- Estratégia regional para acelerar a implementação e monitorização de planos de acção nacionais contra a resistência aos antimicrobianos, 2023-2030 na Região Africana da OMS
- Monitoring progress on antimicrobial resistance in the WHO African Region: tracking AMR country self-assessment survey (TrACSS) 2023 results for human health indicators
- Gaps in the implementation of national core elements for sustainable antimicrobial use in the WHO-African region
- Monitoring progress on Antimicrobial Resistance (AMR) response in the World Health Organization African region
- AMR Status in Africa from the One Health approach perspective
