Dia Internacional da Mulher 2022

Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África

Ano após ano, a 8 de Março o mundo assinala o Dia Internacional da Mulher. É uma oportunidade para reconhecer as realizações de mulheres à escala mundial, mas também para fazer o balanço dos nossos progressos rumo à igualdade de género como dos desafios que ainda temos pela frente.
O tema deste ano, “Igualdade de género hoje para um amanhã sustentável”, celebra as conquistas das mulheres e raparigas que têm liderado os esforços no sentido da adaptação, mitigação e resposta às alterações climáticas no intuito de construir um futuro mais sustentável.


E não poderia ser mais oportuno atendendo à forma como as alterações climáticas se têm manifestado: aumento das temperaturas, subida dos níveis do mar, mudanças dos regimes de chuva e gravidade das condições meteorológicas extremas. Agravadas pelos impactos da COVID-19, estas condições têm consequências directas nos principais determinantes da saúde, tendo um impacto negativo sobre a qualidade do ar e da água, a segurança alimentar, o habitat humano e o alojamento.


As mulheres e as raparigas, designadamente aquelas que vivem em zonas rurais, pobres, afastadas e vulneráveis em países de baixo e médio rendimento, incluindo nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, estão mais expostas à alteração das condições climáticas. Por força do seu género, recai sobre elas um ónus desproporcionado decorrente dos efeitos das alterações climáticas no que diz respeito aos seus papéis sociais e reprodutivos.


Em África, a incidência crescente de condições meteorológicas extremas significa que as mulheres e as raparigas dedicam muito tempo, que poderia ser bem melhor empregue, a actividades produtivas para satisfazer as necessidades vitais das suas famílias. O que inclui o abastecimento de água, alimentos e combustível para iluminação, aquecimento e cozinhar. 


Estes fenómenos extremos também têm repercussões directas e indirectas sobre a saúde das mulheres e das raparigas, levando inclusive à suspensão de serviços de saúde. Cada vez mais dados indiciam que a poluição atmosférica e o calor contribuem para maus prognósticos em termos de saúde reprodutiva, em virtude dos seus impactos na fisiologia celular e na resposta dos órgãos. Nas potenciais consequências incluem-se a infertilidade, o atraso de crescimento intra-uterino, o baixo peso à nascença, a mortalidade perinatal, o parto prematuro e complicações associadas à gravidez. Perturbações devido à seca, a inundações, a conflitos sobre recursos naturais e à migração forçada constituem uma preocupação acrescida.


Indirectamente, a degradação ambiental e os padrões climáticos em mudança aumentam o risco de aparecimento e reaparecimento de doenças, tais como a febre de Dengue, a Chicungunha e os vírus Zika, e o exacerbar da propagação de doenças de transmissão vectorial e por via da água, tais como o paludismo, a cólera e a esquistossomose, que afectam desproporcionadamente crianças e mulheres, em particular mulheres grávidas.


O acesso inadequado à água pode impedir a produção agrícola, acarretando significativos riscos potenciais para a segurança alimentar e consequentes deficiências nutricionais e anemia nas mulheres e raparigas, atendendo às suas necessidades nutricionais específicas.


As mulheres e as raparigas correm também maiores riscos de violência sexual, exploração sexual, abuso, tráfico e violência por parte do parceiro íntimo, a par de stress psicológico, ansiedade e depressão em reacção a deslocações provocadas por acontecimentos decorrentes de fenómenos climáticos.


Para enfrentar os desafios, é necessário tomar medidas sensíveis ao género, juntamente com um desenvolvimento equitativo que reconheça e aborde a vulnerabilidade particular das mulheres e raparigas perante as consequências das alterações climáticas. 


É igualmente importante aproveitar o poder das mulheres para induzirem mudanças ao nível comunitário e no desenvolvimento de instrumentos políticos e planos nacionais de resposta às alterações climáticas. As organizações de mulheres devem ser priorizadas de modo a obter o apoio financeiro e tecnológico necessário para que possam dar uma contribuição significativa na hora de enfrentar a ameaça, ao mesmo tempo que o acesso das mulheres agricultoras à terra deve ser assegurado para criar segurança alimentar e propriedade fundiária equitativa.


Abordar os impactos das alterações climáticas sobre a saúde exige um pensamento inovador e uma perspectiva da saúde pública mais holística e baseada na população. Na OMS fornecemos orientação e apoio técnico aos governos para assegurar que as respostas em matéria de saúde e ambiente, incluindo as estratégias de combate às alterações climáticas, são integradas, equitativas e justas.


Na Região Africana, 19 Estados-Membros já receberam apoio para avaliar qual a capacidade dos seus sectores da saúde respectivos em resistir às ameaças colocadas pelas alterações climáticas e, simultaneamente, assumiram o compromisso do Programa Sanitário da COP26 que implica que os sistemas de saúde funcionem de forma "sustentável e com baixas emissões carbónicas". Para além disso, 22 Estados-Membros da Região elaboraram planos nacionais de adaptação em matéria de saúde.


Contudo, ainda há muito trabalho por fazer e, ao comemoramos o Dia Internacional da Mulher 2022, insto todas as partes interessadas, desde governos e parceiros até à sociedade civil e aos cidadãos comuns, a apoiarem abordagens norteadas pelos países e sensíveis à questão do género para mitigar os impactos das alterações climáticas, especialmente nas nossas mulheres e raparigas vulneráveis.


Antes de terminar, convém recordar que a superação destas desigualdades resultará em melhor saúde, desenvolvimento e prosperidade para toda a gente.

Para saber mais:

Documento de reflexão sobre o género, as alterações climáticas e a saúde da OMS  

Estratégia mundial da OMS sobre a saúde, o meio ambiente e as alterações climáticas (2019)

ONU Mulheres Clima-Género-e-segurança

Mulheres, igualdade de género e alterações climáticas

COP26: O Pacto Climático de Glasgow

O que a COP26 alcançou em matéria de saúde

Alinhamento com a ambição do Acordo de Paris - Caminho para o zero líquido

Relatório do inquérito 2021 da OMS sobre saúde e alterações climáticas:

https://climhealthafrica.org/wp-content/uploads/2020/05/2018-IMCHE3-THE-LIBREVILLE-DECLARATION-ON-HEALTH-AND-ENVIRONMENT-IN-AFRICA-10-Years-On-2008-2018.pdf