Dia Mundial da Saúde Oral 2022

Mensagem da Dr.ª Matshidiso Moeti, Directora Regional da OMS para a África

O Dia Mundial da Saúde Oral assinala-se anualmente a 20 de Março e pretende sensibilizar a população acerca da importância da saúde oral. Em sintonia com o objectivo de alcançar a “Saúde Oral para Todos”, a OMS aproveita o ensejo para inspirar mudanças de comportamento entre indivíduos e comunidades, bem como insta os governos, as organizações não governamentais e o sector privado a trabalharem com vista a um ambiente propício que torne isso possível.

Afinal, uma boa saúde oral contribui significativamente para o bom estado geral de saúde, o bem estar e a qualidade de vida.
 
Na Região Africana da OMS, mais de 480 milhões de pessoas padecem de doenças buco-orais, tais como cáries dentárias, doenças periodontais e perdas de dentição, pese embora na sua maioria possam ser prevenidas.

O peso das doenças orais reflecte desigualdades significativas, sendo as populações marginalizadas desproporcionalmente impactadas. Por exemplo, a noma é um tipo grave de estomatite gangrenosa, é uma doença que destrói a boca e o rosto de crianças pequenas, sobretudo. Se não for tratada, em 90% destes casos o seu desfecho é fatal. E constitui um sinal de pobreza extrema, estando principalmente presente na África Subsariana. 

De entre os factores que contribuem para as doenças buco-orais contam-se a má alimentação, com elevado teor de açúcares, o tabagismo, o uso nocivo do álcool, a falta de higiene, além de outros determinantes sociais. Trata-se de factores semelhantes àqueles que também são responsáveis por doenças não transmissíveis (DNT).

Existe, portanto, uma oportunidade única para priorizar a saúde oral como meio de contribuir directamente para a redução de DNT e dos factores de risco que lhes estão associados. Neste contexto, em 2016, os Estados-Membros aprovaram a Estratégia Regional de Saúde Oral 2016-2025: combater as doenças orais no contexto das DNT. Integrando assim a saúde oral na prevenção e controlo das DNT com vista à cobertura universal de saúde (CUS). 

A OMS apoiou os países, técnica e financeiramente, na implementação desta estratégia regional. As actividades incluem a elaboração de estratégias nacionais, o desenvolvimento das capacidades dos profissionais de saúde, a criação de um modelo eficiente para a força de trabalho de modo a acelerar a implementação de opções relativas a políticas de saúde oral e o reforço da vigilância integrada em colaboração com diferentes parceiros. 

Por exemplo, através do Programa Regional Africano da OMS de Luta contra a Noma, 10 países prioritários receberam apoio para criarem e implementarem um programa nacional integrado de prevenção e controlo da noma. De igual modo, Cabo Verde, Quénia, Maláui, Níger, Senegal e Zimbabué beneficiaram de apoio no sentido de elaborar e implementar estratégias nacionais de saúde oral. 

Está a ser preparado um curso de formação em saúde oral para agentes comunitários de saúde, com o objectivo de partilharem a responsabilidade na promoção da saúde oral ao nível das comunidades. 

Hoje, 38 Estados-Membros da Região Africana da OMS dispõem de uma unidade de saúde oral nos seus Ministérios da Saúde respectivos e 17 possuem pelo menos um documento nacional sobre saúde oral. Está a ser promovido por muitos Estados-Membros o acesso a pasta de dentes com flúor, uma vez que permite prevenir as cáries dentárias. Outrossim, mais de metade de todos os Estados-Membros estão a definir serviços de saúde oral dentro de pacotes normalizados de cuidados essenciais. 

Apesar destes progressos, persistem desafios, incluindo falta de vontade política, o que tem contribuído para a fraca prioridade concedida à saúde oral, a inadequada afectação de recursos e a insuficiente capacidade técnica. A Região Africana da OMS conta com perto de 3,3 dentistas por 100 mil indivíduos – inferior a um décimo do rácio mundial que ascende a 32,8 dentistas por 100 mil indivíduos. As perturbações nos serviços de saúde oral causadas pela resposta à pandemia de COVID-19 agravaram as dificuldades com que a Região se depara.

Actualmente, também há escassez de informação sobre o fardo das doenças buco-orais ao nível população no continente, sendo esses indicadores raramente incluídos nos sistemas nacionais de informação sanitária. 

O Escritório Regional da OMS para a África aproveita esta data para apelar aos Ministérios da Saúde no sentido de darem prioridade à agenda da saúde oral que é parte integrante de outras agendas prioritárias da saúde e do desenvolvimento. O que deve ser apoiado por estratégias nacionais de saúde oral devidamente financiadas, incluindo intervenções de saúde pública para abordar factores de risco comuns às DNT. A prestação de serviços de saúde oral com boa relação custo-benefício ao nível dos cuidados de saúde primários, dentro de um modelo eficiente de força de trabalho, é igualmente crucial, assim como é fundamental que os esforços governamentais possam ser sustentados por organizações não governamentais, pela sociedade civil e pelo sector privado.

São necessárias medidas concretas para travar o marketing, a publicidade e a venda de produtos que favorecem doenças do foro buco-oral, melhorando ao mesmo tempo o acesso a equipamentos dentários, dispositivos e produtos de higiene oral comportáveis, seguros, eficazes e de qualidade. 

A todos deixamos este incentivo, pois cabe a cada de um nós zelar pela sua própria saúde oral, adoptando um estilo de vida saudável e escolhendo uma alimentação equilibrada, pobre em açúcares e rica em fruta e legumes. E, claro, manter uma boa higiene oral, lavando os dentes com pasta de dentes fluoretada duas vezes por dia.

Para saber mais:

Estratégia Regional de Saúde Oral 2016-2025: Combater as Doenças Orais no Contexto das Doenças Não Transmissíveis - relatório do Secretariado.

Promover a Saúde Oral em África: prevenção e controlo das doenças orais e da noma como intervenções essenciais contra as doenças não transmissíveis.

Brochura de informação para a detecção precoce e gestão da noma.

Continuidade dos serviços essenciais de saúde oral durante a pandemia de COVID-19 na Região Africana da OMS: resultados de um inquérito realizado num Estado-Membro e recomendações políticas

Colmatar as lacunas dos serviços de saúde oral em África