Surto de sarampo ameaça saúde pública no Cuanza Sul
O Hospital Pediátrico do Sumbe encontra-se sob pressão devido ao aumento significativo de casos de sarampo nas últimas semanas. Atualmente, 23 crianças permanecem internadas com diagnóstico da doença, e, de acordo com a Direção do hospital, tem-se registado uma média de oito novas admissões por dia. Em determinados momentos, como na semana passada, a unidade chegou a acolher até 40 casos em simultâneo, com dias em que 15 crianças deram entrada com sintomas compatíveis com o sarampo.
Isilda Ngunza Manuel, vendedora da praça do Matabicho e residente no Bairro da Pedra, é uma das mães afetadas. A sua filha de apenas quatro meses começou a apresentar febres persistentes e manchas vermelhas por todo o corpo. “Fiquei muito assustada. No início pensei que fosse apenas calor ou alergia. Mas depois piorou e tive de vir logo para o hospital”, conta. Como o caso da filha de Isilda, muitos outros têm chegado à unidade com sinais de alarme. Segundo a Diretora do Hospital Pediátrico Provincial, Dra. Andreza das Dores Bastos Diogo, o impacto da doença na vida das famílias e na capacidade do hospital tem sido evidente. “O que tem de ser feito primeiro é investigar bem os casos, entender como estão a surgir e vacinar imediatamente nas comunidades afetadas.”
Segundo as autoridades sanitárias que acompanham de perto a evolução da situação, até ao momento, foram registados 264 casos suspeitos de sarampo distribuídos em 16 dos 24 municípios da Província. Do total de casos suspeitos notificados e investigados, 34 são positivos (dos quais 2 com dupla infecção “Sarampo e Rubeola”), 29 negativos, 65 pendentes, 148 confirmados por vínculo epidemiológico e 9 óbitos.
Os casos vão dos 4 meses a 35 anos. A faixa etária mais atingida é das crianças dos 1 a menores de 5 anos de idade, abrangendo bebés não vacinados, crianças em idade escolar e jovens adultos.
De acordo ao estado vacinal, 224 das 264 crianças afectadas com Sarampo, não foram vacinadas. Das 40 vacinadas, 29 apanharam a 1ª dose e 11 completaram a 2ª dose.
Para conter a propagação, equipas de vigilância epidemiológica têm realizado busca ativa casa a casa e nas unidades de saúde, recolhendo amostras para análise laboratorial e preenchido fichas de notificação / investigação. Paralelamente, está em curso uma ação de bloqueio vacinal, com mobilização de profissionais de saúde, técnicos comunitários e líderes locais, que têm sensibilizado as famílias e oferecido a vacina diretamente nas comunidades onde os casos foram identificados.
O sarampo é uma doença viral altamente contagiosa que pode causar complicações graves, como pneumonia, diarreia grave, encefalite e, em casos extremos, levar à morte, especialmente entre crianças pequenas e pessoas não vacinadas. Embora prevenível com uma vacina segura e eficaz, o sarampo continua a representar um risco significativo em contextos com baixa cobertura vacinal.
Para o Dr. Manuel Muixi, Especialista da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacado na província, a resposta depende de ação rápida e coordenada. “O sarampo é uma ameaça séria à saúde infantil, como também em adultos, mas pode ser contido com vacinação eficaz, vigilância ativa e forte mobilização comunitária. Estamos a trabalhar lado a lado com as autoridades locais para travar esta cadeia de transmissão”, afirma.
O Director do Gabinete Provincial da Saúde do Cuanza Sul, Dr. Nelson Camilo, sublinha a importância da colaboração entre todos os sectores. “Estamos mobilizados para proteger as nossas comunidades. É essencial que os pais levem as crianças à vacinação e que todos sigam as orientações das autoridades sanitárias.”
Com o apoio técnico e logístico da OMS, o Ministério da Saúde e o Programa Alargado de Vacinação (PAV) intensificam os esforços para conter o surto e reforçar a prevenção em todo o território provincial. A expectativa é que, com a vacinação de bloqueio, a busca ativa de casos e o envolvimento direto das comunidades, o número de novas infeções comece a diminuir nos próximos dias.