Por Elas, Pelo Futuro: Um apelo à Acção Colectiva
Este artigo foi publicado pela primeira vez no Jornal de Angola, cuja versão pode ser encontrada aqui: https://www.jornaldeangola.ao/noticias/9/opini%C3%A3o/650149/por-elas-pelo-futuro:--um-apelo-%C3%A0-ac%C3%A7%C3%A3o-colectiva
Por: Olívio Gambo, Oficial de Comunicação da OMS em Angola
As mulheres constituem o coração pulsante de qualquer nação. Elas representam o presente, a continuidade e a esperança de um futuro saudável e próspero. Proteger as mulheres é proteger a sociedade. No que diz respeito à saúde pública, essa protecção começa cedo, com as meninas, através de um gesto simples, mas poderoso: a vacinação.
Nesse sentido, o Governo de Angola, com o apoio dos seus parceiros do sector da saúde, deu um passo decisivo ao lançar a Campanha Nacional de Mobilização e Envolvimento Comunitário para a Vacinação contra o Cancro do Colo do Útero. O objectivo é claro: consciencializar para a importância da vacinação de meninas com idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos, através da administração de uma dose da vacina CECOLIN, segura, eficaz e certificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mais do que uma acção de saúde pública, esta campanha é um apelo à consciência nacional, à solidariedade intergeracional e à mobilização de todos os sectores da sociedade para proteger as meninas angolanas e as gerações futuras. O cancro do colo do útero é uma das doenças mais evitáveis, mas continua a causar mortes silenciosamente. Segundo a OMS, em 2022, cerca de 660 mil mulheres foram diagnosticadas com a doença, das quais 350 mil morreram em todo o mundo, 94% das quais em países de baixo e médio rendimento. Em África, são registados anualmente cerca de 117 mil casos, dos quais 76 mil são fatais.
Angola não está alheia a esta realidade. Com base na incidência média e na taxa de letalidade, as estimativas da OMS apontam para mais de duas mil novas ocorrências por ano, das quais mais de metade são fatais. No entanto, sabemos que muitos casos não são diagnosticados devido à falta de rastreio, informação e acesso aos serviços de saúde.
O que significam estes números para nós, angolanos? Significam famílias desestruturadas, comunidades fragilizadas e um fardo emocional e financeiro difícil de suportar. A luta de uma mãe, irmã, tia, prima, avó, sogra ou filha contra esta doença é uma dor que atravessa gerações. Os custos com transporte, exames, medicamentos e cuidados especiais podem pôr em risco o sustento familiar e agravar as desigualdades existentes.
No entanto, há esperança. A experiência internacional mostra que a mobilização comunitária é fundamental para o sucesso. Países como a Nigéria, o Senegal e a Tanzânia alcançaram taxas de cobertura vacinal superiores a 80% ao envolverem líderes religiosos, escolas, organizações de jovens e estruturas comunitárias. No Senegal, a vacinação passou a fazer parte da rotina escolar e, na Nigéria, a campanha “One Dose at a Time” mobilizou milhões de raparigas através de acções porta a porta.
Angola também pode fazer história. Para tal, a fase de consciencialização e registo, que antecede a vacinação agendada para 27 de Outubro, deve ser vivida como um momento de união nacional. É necessário envolver famílias, escolas, igrejas, líderes comunitários, jornalistas, influenciadores, artistas e políticos. Nenhuma menina pode ficar para trás.
A comunicação sobre a vacinação deve ser clara, acessível e culturalmente relevante. Devemos utilizar todos os meios e canais ao nosso alcance: mercados, rádios locais, televisão, jornais, redes sociais, igrejas e quaisquer outros canais de comunicação comunitária ou convencional, de modo a garantir que a mensagem chegue e seja compreendida por todos. Cada menina vacinada representa uma vitória da cidadania. Cada comunidade envolvida representa um passo em direcção ao reforço do acesso à saúde e à justiça social.
A comunicação estratégica, essencial para o sucesso da campanha, não se limita à transmissão de uma mensagem. É necessário criar pontes, despertar consciências e tocar corações. Esta campanha exige mais do que dados técnicos: exige emoção, empatia e envolvimento afectivo. Por isso, todos somos convidados a comunicar com propósito, a fim de garantir que todas as raparigas sejam vacinadas e que o cancro do colo do útero deixe de ser uma sentença de morte, passando a ser uma página virada na história da saúde pública angolana.
Que cada jornalista, professor, artista, influenciador, político, líder comunitário, sacerdote, pastor, jovem, mãe e pai se torne um agente de mudança! Que cada bairro se transforme num centro de esperança, onde a vacinação de cada menina seja celebrada como um símbolo de progresso e de cidadania activa.
Porque vacinar é cuidar, mobilizar é proteger e envolver a comunidade é inspirar a mudança. Junte-se a esta mobilização por elas e pelo futuro!