Na linha da frente da esperança: a luta de Angola contra a cólera

Na linha da frente da esperança: a luta de Angola contra a cólera

Na província angolana da Huíla, onde a Serra da Leba se ergue como um poema esculpido em pedra e o planalto montanhoso faz fronteira com o Namibe, onde se encontra um dos desertos mais antigos do mundo, dezenas de heróis desconhecidos levantam-se todas as madrugadas com uma nobre missão: salvar vidas da cólera.

O Dr. José Caetano, oficial de vigilância da poliomielite da Organização Mundial de Saúde na Huíla, é um dos rostos desta luta. Com mais de duas décadas de experiência na linha da frente da saúde pública, desde as densas florestas da província do Zaire até à Huíla, o seu percurso tem sido marcado por emergências de saúde, resiliência e esperança.

Desde o início deste ano, Angola enfrenta um surto de cólera com mais de 26.000 casos e 750 mortes.

Embora a cólera possa ser evitada através da administração de uma vacina oral eficaz, a Huíla tornou-se o epicentro do actual surto durante o período de 8 a 21 de Junho, tendo sido registados até hoje 1085 casos confirmados e 31 mortes, o que corresponde a uma taxa de letalidade de 2,9%.

A maioria das pessoas afectadas, correspondendo a 33% dos casos, tinha menos de 20 anos, sendo 52% mulheres, enquanto 62% das mortes ocorreram entre os 20 e os 34 anos, sendo os homens os mais afectados, com 62% dos casos. A doença, agravada pela precariedade das infraestructuras de água e saneamento, está a propagar-se rapidamente e exige uma resposta urgente e coordenada para proteger e salvar vidas em Angola.

O Dr. Caetano está no terreno. Presta apoio técnico à Direção Provincial de Saúde, orienta equipas nos municípios da província, forma profissionais, supervisiona operações, participa em reuniões de coordenação e apoia a compilação de dados cruciais para a tomada de decisões que salvam vidas.

Vi o que as doenças evitáveis por vacinação causam às crianças e às suas famílias", recorda. "No Zaire, testemunhei a dor da poliomielite: crianças incapazes de andar, brincar ou sonhar. É por isso que me esforço todos os dias para proteger as famílias de doenças que podem ser evitadas."

O percurso do Dr. Caetano na protecção de vidas tem sido notável. No início da década de 2000, desempenhou um papel fundamental na resposta a surtos de febre amarela e malária. Apoiou também a reintegração de refugiados angolanos que regressavam da República do Congo, muitos dos quais estavam desnutridos e sofriam de tuberculose. Em 2015, apoiou activamente os esforços de Angola para erradicar o poliovírus selvagem e declarar o país livre desta doença, um marco histórico.

Agora, com a cólera a ameaçar inverter anos de progresso na saúde pública e a ceifar vidas, Caetano e a OMS estão a trabalhar com o Ministério da Saúde, mobilizando equipas de resposta rápida e comunidades para a prevenção, água e saneamento, apoiando campanhas de vacinação e reforçando a gestão de casos e a vigilância epidemiológica. No entanto, a crise exige mais, como afirmou o Representante da OMS em Angola, Dr. Indrajit Hazarika.

“Estamos a fazer tudo o que podemos” e assistimos a um declínio da taxa de mortalidade no país para os níveis mais baixos desde o início de 2025, tendo diminuído de um máximo de 8,8% para 1,5% nas últimas semanas. No entanto, é necessário acelerar os esforços para travar o surto de cólera e proteger a população. Precisamos de mantimentos, de pontos de reidratação oral, de água potável, de vacinas e de intensificar a mobilização da comunidade", afirmou o Dr. Indrajit.

Apesar das longas horas e da distância dos seis filhos, o Dr. Caetano mantém-se firme. "Sempre que as autoridades locais precisam de orientação técnica que faça a diferença, somos chamados. Orgulhamo-nos de apoiar o governo na linha da frente", acrescentou.

O director provincial da Saúde, Dr. Paulo Luvangamo, reforça: "Contamos com a OMS para a supervisão, apoio técnico e logístico. Tem sido um apoio fundamental na resposta às emergências sanitárias e no combate a todas as doenças, sem excepção."

Na Huíla, onde a luta contra a cólera se intensifica, o sonho do Dr. Caetano é simples, mas profundo: "Controlar rapidamente o surto de cólera, proteger vidas e reforçar o sistema de saúde para garantir o acesso a cuidados de saúde de qualidade para todos."

Click image to enlarge
For Additional Information or to Request Interviews, Please contact:
Olívio Gambo

Oficial de Comunicação
Escritório da OMS em Angola
gamboo [at] who.int (gamboo[at]who[dot]int)
T: +244 923 61 48 57