Cuanza Sul responde à cólera com força comunitária e vacinação em massa
Cuanza Sul, Julho de 2025 - Quando José Domingos, morador do bairro Panda, Municipio da Gangula, começou a sentir dores na barriga, seguido de diarreia líquida e vómitos, pensou que era só uma má disposição. Mas, em poucas horas, o seu estado piorou. “Fiquei mesmo fraco, pensei que ia morrer. Foram os vizinhos que me levaram ao Centro de Saúde da Gangula. Lá disseram que era cólera”, contou.
José conseguiu ser tratado a tempo e agora é uma das primeiras pessoas vacinadas contra a cólera nesta nova ronda de vacinação que decorre em vários municípios da província do Cuanza Sul. “Os vacinadores passaram por aqui e nos vacinaram a todos de casa, e recebemos também comprimidos Certeza para tratar a água que consumimos. Sinto-me mais aliviado. Não quero voltar a passar por isso.”
A campanha no Cuanza Sul faz parte da campanha nacional de vacinação contra a cólera, promovida pelo Ministério da Saúde, com o apoio da OMS, GAVI, UNICEF, União Europeia e outros parceiros do sector. Esta acção tem como meta vacinar mais de 2 milhões de pessoas em seis províncias com transmissão activa da doença.
No Cuanza Sul, uma das províncias mais afectadas, a meta é vacinar 837.385 pessoas, com idade a partir de 1 ano, nos municípios da Boa Entrada, Conde, Conda, Gabela, Gangula, Porto Amboim, Quilenda, Seles e Sumbe.
“A vacinação é uma das principais ferramentas que temos para conter este surto e salvar vidas. Estamos a trabalhar com afinco para atingir uma cobertura vacinal de 95% nas zonas de maior risco”, disse o Dr. Nelson Camilo, Director Provincial da Saúde.
A província vive há meses com casos constantes de cólera, sobretudo no município do Sumbe, com maior incidência na comuna do Quicombo, que registou o maior número de notificações. Até agora, foram registados 2844 casos e 75 óbitos, segundo dados das autoridades sanitárias.
A vacina usada nesta campanha, Euvichol-S, é de dose única, administrada por via oral, segura e eficaz. Foi doada pela GAVI e faz parte do esforço global coordenado pelo Grupo Internacional de Coordenação (ICG).
No terreno, equipas compostas por vacinadores, registadores, mobilizadores e supervisores estão a trabalhar porta-a-porta e também em postos fixos nas zonas mais críticas.
Maria Marlene, técnica de enfermagem que esteve destacada no CTC das Cachoeiras e que agora vacina no bairro da Cachoeira, município da Gangula, partilhou:
“Agora que temos esta vacina, sinto-me mais confortável, porque a cólera aqui atacou muita gente e muita gente perdeu a vida. Graças a Deus, a população está a aderir em massa à vacina e estão todos empenhados em se proteger.”
Além da vacinação, a campanha tem servido para reforçar a educação comunitária, com acções de sensibilização sobre higiene individual e coletiva, tratamento da água, limpeza do meio e outras medidas de prevenção.
A resposta no Cuanza Sul está a ser tecnicamente apoiada pela OMS, que se encontra na linha da frente desde o início do surto. O trabalho inclui desde a detecção e investigação de casos suspeitos, apoio aos centros de tratamento, as equipas de reposta rápida e vigilância activa, até o planeamento, implementação e supervisão da campanha de vacinação.
A presença da OMS com 4 profissionais destacados em 7 municipios, é liderada no terreno pelo Dr. Manuel Muixi, especialista com vasta experiência em resposta a emergências sanitárias, gestão de surtos e saúde pública. Antes de apoiar o Cuanza Sul, o Dr. Muixi esteve envolvido em respostas a surtos noutras províncias do país com foco para doenças como: meningite, sarampo, poliomielite, diarreias muco sanguinolentas, entre outras.
“O controlo da cólera exige uma abordagem integrada ou multissectorial: água potável, saneamento do meio ambiente, prevenção com vacina, tratamento adequado de pacientes, resposta rápida a novos casos e vigilância activa. A vacina é só o começo, o trabalho precisa continuar para quebrar o ciclo da transmissão,” explicou o Dr. Muixi.
Além de apoiar o Gabinete Provincial e as Direcções Municipais de Saúde, o especialista da OMS lidera formações, planificações, sessões de supervisão técnica, visitas de campo e interacções com líderes comunitários para garantir que a resposta seja eficaz, localmente adaptada e bem compreendida pela população.
A campanha continua nos próximos dias, com forte mobilização das autoridades e parceiros. Em cada comunidade visitada, a vacinação traz consigo uma dose de protecção, mas também de esperança.