Comunicação que Toca Corações e Salva Vidas

Comunicação que Toca Corações e Salva Vidas

Este artigo foi publicado pela primeira vez no Jornal de Angola, cuja versão pode ser encontrada aqui: https://www.jornaldeangola.ao/noticias/9/opini%C3%A3o/650649/comunica%C3%A7%C3%A3o-que-toca-cora%C3%A7%C3%B5es-e-salva-vidas 

 

Por: Olívio Gambo, Oficial de Comunicação da OMS em Angola

Desde os primórdios da humanidade, a comunicação transcende a simples troca de palavras. Ela constrói pontes, molda sociedades e inspira lideranças. Hoje, essa mesma força continua a transformar o mundo e, em Angola, está a redefinir os caminhos da saúde pública.

Em Setembro, o Ministério da Saúde, com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do UNICEF, deu um passo estratégico ao lançar a Rede de Jornalistas para a Saúde. Esta iniciativa reúne profissionais da comunicação em torno de uma missão comum: promover a saúde, reforçar a prevenção de doenças e informar com rigor, sensibilidade e compromisso social. No entanto, foi em Outubro, sob a égide das mesmas instituições, que assisti ao surgimento de uma força ainda mais inovadora: a Rede de Influenciadores Digitais para a Saúde.

O evento “Chá de Ideias contra o Cancro do Colo do Útero”, que antecedeu a criação da rede, foi muito mais do que um simples encontro. Foi um espaço pulsante de partilha, onde histórias reais, dores vividas e gestos de solidariedade se entrelaçaram com ciência, dados e esperança. 

Influenciadores digitais e especialistas em saúde pública reuniram-se para discutir uma doença que continua a ceifar vidas em silêncio e uma vacina que pode salvar milhares. Embora já tenha ouvido, em grupos focais realizados em várias províncias de Angola, centenas de relatos comoventes sobre o impacto devastador do cancro do colo do útero nas famílias, este momento foi único. As lágrimas que me inundaram os olhos não foram de desespero, mas de esperança renovada: podemos proteger as nossas meninas e o futuro de Angola com um gesto de amor — a vacinação.

A campanha de vacinação contra o cancro do colo do útero, que decorre até 7 de Novembro em todas as províncias, ganhou novo fôlego com o envolvimento activo dos influenciadores digitais. Ganhou humanidade. E isso é essencial. Porque comunicar com propósito é também salvar vidas.

Em Angola, segundo o relatório Global Digital da DataReportal, 17,2 milhões de pessoas têm acesso à internet, das quais 5,1 milhões estão presentes nas redes sociais. Plataformas como Facebook, Instagram, TikTok e WhatsApp transformaram-se em espaços de influência, sobretudo entre os jovens. 

Ignorar este potencial seria desperdiçar uma oportunidade estratégica de difundir informação vital no momento certo e junto daqueles que mais precisam. A eficácia desta abordagem é comprovada por experiências internacionais. Países como o México, o Peru e a Austrália alcançaram taxas de cobertura vacinal contra o HPV superiores a 80%, graças a campanhas criativas e estratégias inovadoras de comunicação. Um estudo publicado no Health Promotion Journal of Australia demonstrou que os influenciadores têm um impacto directo na mudança de comportamentos de saúde, especialmente quando utilizam narrativas pessoais e formatos interactivos, como vídeos curtos e inquéritos.

A experiência internacional mostra também que, com a formação adequada, os influenciadores digitais podem tornar-se agentes eficazes na difusão de informação científica essencial, fomentando a empatia e a participação activa. Em Angola, este potencial é igualmente evidente. Os influenciadores não se limitam a comunicar; criam antes ligações genuínas. São vozes que se fazem ouvir onde os meios formais muitas vezes não chegam ou não são bem recebidos.

Com a criação da Rede de Influenciadores para a Saúde, Angola passa a dispor de uma plataforma estratégica adicional, capaz de transformar a comunicação no sector da saúde em acções concretas e impactantes. Esta boa prática deve servir de referência para o desenvolvimento de políticas públicas noutras áreas cruciais, como a educação, a nutrição, o combate à pobreza e a cidadania. Para tal, é fundamental criar redes temáticas de influenciadores, proporcionando-lhes apoio técnico, formação contínua e integração nos planos nacionais de comunicação dos ministérios e programas sociais, com objectivos claros e indicadores de impacto bem definidos. 

A iniciativa deve ser complementada com a criação de observatórios digitais para monitorizar a circulação de informações, combater a desinformação e avaliar o impacto das campanhas. Além disso, é fundamental promover a literacia digital e a ética da comunicação entre os criadores de conteúdos, garantindo a sua responsabilidade e autenticidade. Mecanismos de financiamento público e parcerias com o sector privado podem assegurar a sustentabilidade e a inclusão desta abordagem inovadora.

Num país onde os rumores ainda travam o progresso e o silêncio sobre temas de saúde custa vidas, investir na comunicação digital é investir na vida. Trata-se de quebrar tabus, combater a desinformação e promover decisões informadas. Porque envolver é transformar. Ao comunicarmos com empatia, estamos a construir uma Angola mais saudável, mais informada e mais humana. 

Junte-se à Rede de Influenciadores para a Saúde, use a sua voz digital para o bem comum e promova comportamentos saudáveis, nomeadamente a vacinação contra o cancro do colo do útero. Faça parte da mudança. Seja a influência que toca corações e salva vidas.

Click image to enlarge
For Additional Information or to Request Interviews, Please contact:
Olívio Gambo

Oficial de Comunicação
Escritório da OMS em Angola
gamboo [at] who.int (gamboo[at]who[dot]int)
T: +244 923 61 48 57