Angola marca passo histórico com a introdução da vacina contra o cancro do colo do útero
Lélia Bartolomeu, com 12 anos, assistiu de perto ao sofrimento da avó, sobrevivente de cancro do colo do útero. “Se no meu tempo houvesse a vacina, eu não estaria a passar por isto”, disse-lhe a avó, enquanto enfrentava o fardo da doença. Esta frase marcou a vida de Lélia e reforçou o seu desejo de contribuir para a mudança.
Tal como a avó de Lélia, todos os anos, em África, mais de 117 mil mulheres recebem o diagnóstico de cancro do colo do útero, das quais mais de 76 mil acabam por morrer. Embora seja um dos tipos de cancro mais preveníveis e curáveis, quando detectado e tratado a tempo, o acesso limitado à prevenção, ao rastreio e ao tratamento contribui para 90% das mortes relacionadas com a doença.
Em Angola, em particular, os números são igualmente alarmantes. Dados do Instituto Angolano de Controlo do Cancro revelam que, só em 2022, foram tratados 915 casos de cancro do colo do útero, o que representa cerca de 17% de todos os casos de cancro registados no país.
Para contrariar a dolorosa realidade imposta pelo cancro do colo do útero, Angola adquiriu mais de dois milhões de doses da vacina contra o HPV, segura e pré-qualificada pela OMS. Por conseguinte, deu um passo histórico ao proceder, sob a égide dos ministérios da Saúde e da Educação, ao lançamento da campanha nacional de mobilização e envolvimento comunitário para a vacinação contra o cancro do colo do útero. A cerimónia decorreu em Luanda, capital do país, e contou com a presença de membros do governo, parceiros nacionais e internacionais, sector privado, famílias e estudantes, tendo sido liderada pela Primeira Dama da República, Dra. Ana Dias Lourenço, embaixadora da campanha.
Durante o evento, Lélia teve a honra de ser a primeira criança do sexo feminino a ser registada para receber a vacina, representando simbolicamente todas as meninas de Angola. “Sinto-me feliz e realizada por representar as meninas do meu país e do meu continente. Esta vacina protege-nos e oferece-nos a oportunidade de sonhar com um futuro melhor”, afirmou entusiasmada.
A introdução da vacina contra o cancro do colo do útero marca o início de uma nova era para a saúde das mulheres e meninas angolanas. A vacinação será implementada em duas fases: a primeira, que decorrerá entre 27 de Outubro e 7 de Novembro de 2025, consistirá numa campanha nacional nas escolas, unidades de saúde e postos fixos; a segunda fase consistirá na integração da vacinação no programa de vacinação de rotina, a partir de Janeiro de 2026.
“Com esta campanha de mobilização, queremos que cada pessoa tenha acesso à informação correcta, que possa reflectir, conversar, tirar dúvidas e compreender o que está em causa. Só assim será possível tomar uma decisão consciente, informada e responsável”, destacou a Primeira Dama da República de Angola, Dra. Ana Dias Lourenço.
A vacinação contra o cancro do colo do útero constitui uma conquista no que se refere à protecção das meninas angolanas e das gerações futuras, bem como à redução das desigualdades no acesso aos cuidados de saúde, e reafirma o compromisso de Angola com a Estratégia Mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Eliminação do Cancro do Colo do Útero como Problema de Saúde Pública. Esta estratégia estabelece metas ambiciosas a alcançar até 2030: a) 90% das raparigas devem estar totalmente vacinadas contra o HPV até aos 15 anos; b) 70% das mulheres devem ser submetidas a rastreios com testes de elevada precisão aos 35 e aos 45 anos; e c) 90% das mulheres com lesões ou cancro devem receber tratamento adequado.
Para garantir a vacinação contra o cancro do colo do útero, o Governo de Angola estabeleceu parcerias sólidas com os seus parceiros de desenvolvimento, nomeadamente o Banco Europeu de Investimentos, a OMS, o UNICEF, o PNUD, a GAVI, a União Europeia, o Banco Mundial e outros aliados estratégicos.
A vacina contra o cancro do colo do útero representa um avanço médico e um acto de esperança e de justiça social. Após o lançamento da campanha, em Angola intensificaram-se as acções de mobilização e engajamento nas comunidades, para garantir o registo de todas as meninas, a sua vacinação e um futuro em que todas poderão crescer de forma saudável, sonhar alto e viver sem medo desta doença que pode ser prevenida.
‘‘Vamos juntos e unidos vacinar todas as meninas e garantir que nenhuma fica para trás. O momento é agora, e a responsabilidade é de todos.’’ Apela Dr. Indrajit Hazarika, Representante da OMS em Angola.