Hepatitis: VAMOS DESCOMPLICAR! A Prevenção, Testagem, Tratamento e Acesso aos serviços para as Hepatites
Apesar da limitada disponibilidade de dados abrangentes sobre hepatites virais em Moçambique, os estudos existentes apontam para uma alta endemicidade da hepatite B (HBV), com uma prevalência estimada de 7,2% da população, enquanto a hepatite C (HCV) afeta entre 0,8% e 1,3% dos moçambicanos.
A hepatite B é uma doença prevenível por vacina. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todos os recém-nascidos recebam a primeira dose da vacina nas primeiras 24 horas após o nascimento, seguida de três doses adicionais nos primeiros meses de vida. A vacina é segura, eficaz e essencial para prevenir infecções crônicas que podem evoluir para doenças hepáticas graves, como cirrose e câncer do fígado.
Com o objetivo de prevenir a infecção crônica pelo vírus da hepatite B na infância, Moçambique introduziu a vacina no Programa Alargado de Vacinação (PAV) em julho de 2001, na forma combinada com a vacina DPT (contra difteria, tosse convulsa e tétano), administrada a partir dos dois meses de idade.
Embora a dose ao nascimento ainda não faça parte do calendário nacional de vacinação, Moçambique está entre os países elegíveis com pedidos submetidos e recomendados para aprovação com apoio da GAVI.
O impacto das infecções crônicas por hepatite é significativo. O câncer do fígado é o quarto tipo mais comum entre os homens e o quinto entre as mulheres em Moçambique, com uma taxa de mortalidade estimada em cerca de 7,5%. A infecção crônica pelos vírus das hepatites B e C é reconhecida como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa forma grave de cancro do fígado.
A hepatite B, embora não tenha cura, é prevenível por vacina e controlável com medicação. Já a hepatite C pode ser curada, mas ainda não existe vacina para sua prevenção. A testagem voluntária, o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento são essenciais para evitar complicações graves como cirrose, insuficiência hepática e cancro do fígado.
Hoje, no Dia Mundial das Hepatites, celebrado este ano sob o lema “Hepatitis: Vamos descomplicar”, somos chamados a refletir sobre o impacto persistente das hepatites virais no mundo e, em particular, na região africana.
Em 2022, cerca de 304 milhões de pessoas viviam com hepatite B ou C crônica em todo o mundo dos quais, mais de 70 milhões na Região Africana da Organização Mundial da Saúde. Apesar da existência de uma vacina eficaz contra a hepatite B, apenas 45% dos recém-nascidos receberam a primeira dose nas primeiras 24 horas de vida, como recomendado pela OMS. Como consequência, 1,3 milhão de pessoas morreram devido às formas crônicas de hepatite B e C no mesmo ano.
Esses números reforçam a urgência de intensificar os esforços de prevenção, diagnóstico e tratamento das hepatites virais, especialmente em contextos de alta endemicidade como Moçambique. Para enfrentar esse desafio, a OMS recomenda que os governos priorizem a eliminação da hepatite nas suas agendas nacionais de saúde e adotem políticas e sistemas eficazes que garantam o acesso universal aos cuidados necessários.
Entre as principais ações recomendadas pela OMS, destacam-se:
Garantir que todas as crianças recebam a dose da vacina contra a hepatite B ao nascimento, idealmente nas primeiras 24 horas de vida;
Integrar o rastreio e o tratamento da hepatite nos cuidados de saúde primários de rotina;
Assegurar financiamento interno sustentável para apoiar a implementação dos planos nacionais de resposta à hepatite;
Combater o estigma e a desinformação, por meio da educação pública e do envolvimento comunitário;
Proteger as pessoas que vivem com hepatite contra a discriminação nos serviços de saúde, no local de trabalho e na sociedade em geral.
Além disso, a OMS apela aos parceiros internacionais para que reforcem o seu apoio, garantindo que todos os países tenham acesso às ferramentas, tecnologias e tratamentos necessários para pôr fim a esta epidemia global.
É hora de descomplicar, conscientizar e agir para eliminar as hepatites virais como problema de saúde pública em Moçambique.