Mensagem da Dr.ª Matshidiso Rebecca Moeti, Directora Regional da OMS para a África, sobre a campanha anual “Salve vidas: Lave as mãos”

Hoje, dia 5 de Maio de 2018, assinalamos a campanha mundial “SALVE VIDAS: Lave as mãos”, uma iniciativa liderada pela OMS, que visa promover melhorias nas práticas de higiene das mãos nos locais de prestação de cuidados, com vista a reduzir o peso de infecções associadas a cuidados de saúde e à propagação de agentes com resistência antimicrobiana. Com efeito, ocorreu no nosso mundo uma mudança irreversível de paradigmas - os agentes patogénicos resistentes a múltiplos medicamentos vieram para ficar e temos de lidar com isso através de medidas de prevenção das infecções. Há pouca informação disponível sobre o fardo endémico destas infecções em África, mas um estudo recente revela que a sua prevalência varia entre 2,5% e 14,8%, o dobro da prevalência média (7,1%) na Europa. Este fardo é ainda mais elevado nos recém-nascidos, uma vez que um quarto das mortes neonatais é atribuído à septicemia.

O tema para este ano é “prevenção da septicemia associada a cuidados de saúde”.  Estima-se que a septicemia afecte mais de 30 milhões de doentes por ano em todo o mundo. Na septuagésima Assembleia Mundial da Saúde, em 2017, os Estados-Membros adoptaram a resolução WHA70.7 sobre a melhoria da prevenção, do diagnóstico e da gestão clínica da septicemia. O lema da campanha deste ano é “Está nas suas mãos – prevenir a septicemia nos cuidados de saúde”. Existem cinco principais apelos à acção, cada um dirigido a um grupo-alvo diferente. São eles:

  • Líderes na Prevenção e Controlo das Infecções (PCI) (aqueles que se dedicam à PCI ao nível das unidades de saúde) – “Sejam paladinos da promoção da higiene das mãos como forma de prevenir a septicemia nos cuidados de saúde”
  • Profissionais de saúde - “Reservem 5 momentos para lavar as mãos como forma de prevenir a septicemia nos cuidados de saúde”
  • Grupos de doentes que promovem a higiene das mãos – “Peçam que sejam reservados 5 momentos para lavar as mãos como forma de prevenir a septicemia nos cuidados de saúde”
  • Líderes, “directores de unidades de saúde” ou outros líderes dos cuidados de saúde – “Evitem a septicemia nos cuidados de saúde, façam da higiene das mãos um indicador da qualidade no seu hospital”
  • Ministérios da Saúde – “Implementem a resolução WHA70.7 da AMS de 2017 sobre a septicemia e façam da higiene das mãos um marcador nacional da qualidade dos cuidados de saúde”.

A higiene das mãos continua no cerne dos programas de prevenção e controlo das infecções (PCI) concebidos para lutar contra as infecções, a resistência antimicrobiana e a septicemia associadas aos cuidados de saúde. As campanhas anuais são formas importantes de incentivar mudanças de comportamento no sentido de aprimorar as melhores práticas da PCI.

Nas Orientações da OMS sobre os Componentes Fundamentais dos Programas de PCI ao Nível das Unidades de Cuidados Intensivos de Saúde e das Unidades Nacionais de Serviços de Saúde, a higiene das mãos é uma vez mais realçada como sendo o melhor exemplo de uma implementação bem-sucedida destes componentes, graças ao empenho contínuo de muitos profissionais de saúde dedicados. Isto é particularmente importante para a sobrevivência neonatal, uma vez que os recém-nascidos são susceptíveis às infecções porque os seus mecanismos de defesa de hospedeiro ainda não estão consolidados. Os profissionais de saúde trabalham em ambientes nos quais o uso frequente de antibióticos e intervenções invasivas permitem a invasão de agentes patogénicos nosocomiais comuns, sendo estes muitas vezes o veículo de propagação destas infecções a outros doentes sob os seus cuidados.  

As evidências mostram que, para além da amamentação exclusiva e da manutenção da temperatura, o facto de as mães lavarem as mãos e os recém-nascidos serem menos tocados repetidamente por outros membros da família, sobretudo sem lavarem adequadamente as mãos, pode reduzir em 20% a 50% as mortes neonatais relacionadas com infecções.

As unidades de saúde de todos os países da Região Africana devem, portanto, envolver-se nesta campanha anual mundial para continuar a promover a higiene das mãos, a lutar contra a resistência antimicrobiana, a prevenir a septicemia associada a cuidados de saúde e a comprometer-se com uma maior adesão a todos os componentes fundamentais dos programas de PCI. Todos os anos, cada vez mais unidades de saúde da Região Africana aderem à campanha “SALVE VIDAS: Lave as mãos”.  Este ano, esperamos assistir a um aumento significativo deste número. Exorto-os a juntarem-se a mim na promoção da campanha e a encorajarem os países da nossa Região a incentivar todas as unidades de saúde a aderirem em: www.who.int/gpsc/5may/register/en/index.html. A página Web da OMS também contém recursos úteis.

Lanço um apelo aos líderes e aos gestores do sector da saúde, aos profissionais de saúde, associações de consumidores e órgãos semelhantes na Região Africana para que ponham em prática uma cultura genuína de qualidade e segurança, na qual tanto os doentes (e os seus parentes e visitantes) como os profissionais de saúde trabalham em conjunto para reforçar a PCI e promover as melhores práticas de higiene das mãos. Apesar de a responsabilidade pela higiene das mãos nas unidades de saúde ser totalmente dos profissionais de saúde, os doentes devem apoiá-los, praticando e aprendendo mais sobre o assunto. 

Insto os Estados-Membros a aproveitarem a campanha de higiene das mãos deste ano para reconhecerem a verdadeira ameaça das infecções e da septicemia associada a cuidados de saúde na nossa Região e consolidarem os nossos esforços para melhorar a higiene das mãos nos nossos serviços de saúde. A inacção de hoje significa mais infecções associadas a cuidados de saúde amanhã.

Muito obrigada.